Não, eu não aceito
Eles se batem sem querer enquanto andam pela escola e aqueles pesados livros de ensino médio caem de suas mãos. Começa assim, sempre assim.
Os dois se desculpam ao mesmo tempo, se abaixam para apanhar os livros e suas mãos se tocam. Sempre se tocam. Tem de se tocarem.
Descobrem que sentarão lado a lado em sala de aula e irão trocar observações e conselhos no intervalo só para terem que se olhar nos olhos e conversar sobre um dia na semana que poderão estudar, e aí acontece. Sim, acontece. Como nos contos.
Cinderela conseguiu, a Bela tentou e foi assim que a Branca acordou. Todos sabem.
Eles namoram por todo o ensino médio e chegam a noivar quando entram para a faculdade. Vão se formar e se casarão quando ela descobrir que tem enjoos constantes. Todos ficam felizes. Tem de ficar felizes.
Eles queriam ter tempo para seus filhos e viajar nas férias, mas aí ela teve de ser médica por admiração de seus pais e seu marido administrador para cuidar da empresa do pai. Ela vive de plantão e ele, aceitando propostas. É isso mesmo, certo?
Três anos depois, ela está cansada de ver tanta gente morrer, logo ela, que só queria ver o mundo. O marido não dá sinal de vida e os filhos que já tem três anos, são apaixonados pelas babás.
O casamento está a beira do fracasso e não tem nem cinco anos. Ela queria estar em Paris vendo a torre ao pôr do sol ou comendo uma paella no México, mas não está e nem pensaria em citar isso perto da família. Eles enlouqueceriam e ela seria fracassada. Sempre seria.
Ela chora por seu casamento ser uma droga e por seu marido chegar tarde; por seus filhos se repelirem quando ela os toca e por ter um emprego que não escolheu.
Conversa com o marido sobre a ideia de viajar, mas ele tem negócios importantes demais e ela reclama para ele, porque já não aguenta mais... e daí em diante nem o espelho da madrasta teve de adivinhar.
Acabou. E ela já sabia. Sim, sabia.
Nunca desejou um sapatinho bonito, um conto para história ou tampouco um final estável e feliz. Na verdade, ela só desejava sair pela estrada a fora tão sozinha...
"... aceita ele para amá-lo e respeitá-lo por todos dias da sua vida?"
Não, eu não aceito.
- Lore M.
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