Coração Selvagem
Por Conrado Lima
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Ensinaram-me a amar com o corpo, alma e mente - para só então, julgar a minha paixão verdadeira. As más bocas clamaram; “Não se envolva com esse tal de love”, e como todo jovem indignado com a tradição afoguei-me no tal pecado capital - amar alguém para só depois se amar. Corri pelas ruas e ruelas de Córdoba para me perder nos seus pontos turísticos. Comprei uma liberdade indócil e paguei com algumas notas de coragem e muitas, incontáveis, moedas de imprudência. Senti-me, em plena
segunda-feira, alguém tão livre quanto aqueles pássaros que migram sem saber se retornarão algum dia. Estava liberto.
Caminhei dentre meus pensamentos e até organizei algumas plantas - o caos era meu jardineiro. Esqueci de recordar o porquê de viver, e quando a resposta chegou - por correio, pois não gosto de mensagens virtuais - decidi experimentar do suposto culpado das tragédias de Shakespeare ou, se preferes, da eterna chama de Camões. Conheci, quase sem me reconhecer, uma menina de frente a Mesquita de Córdoba que me tirou dos trilhos, no entanto seria triste se todas as pessoas seguissem como trens - um rumo sem devaneios e loucuras.
Joguei-me no precipício da doce paixão. Experimentei do mel de se amar e gostei, apesar dos incrédulos, até mesmo do fel do ciúme. Rolei por camas e dormi com gatos na rua, visto que o destino é cruel com aqueles que de tudo querem conhecer. Desbravei meu íntimo e não, por mais esquisito que seja, não amei ninguém mais que a mim mesmo - amor próprio sempre foi meu ponto forte. Andei rumando minhas trilhas - mudei meus planos - de mãos dadas com minha garota e quase não reconheci aquele jovem que nos restaurantes ao lado das avenidas preferia suco de maçã à Coca-Cola. Mudei, literalmente, da água pro vinho - ou melhor, do industrial pro menos industrial (agrotóxicos, eles existem).
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Perdi alguns amores - inclusive a citada menina - e encontrei novos pelo caminho, contudo com o tempo percebi que o amor verdadeiro é a aposentadoria de alguém que viaja pelo mundo em busca de romances - passageiros, cruéis e de todas as cores. Quem sabe numa esquina qualquer, quem sabe nos viadutos do meu caminho, eu desista de insistir e minha caçada cesse. Talvez, por ironia do destino, eu desista de amar tanto e sofra apenas por existir - dor insana natural dos lugares onde a tradição tem mais valor que a razão. Afinal, algum dia quero ler no meu passado a história que eu admiro em muitos pretéritos alheios. Enquanto isso, só me resta questionar ao vácuo; Com quantos livros de amor e quilos de sofrimento se faz um bom romance?
Sem resposta, insisto em desbravar meu caminho e meu coração selvagem.
E é assim que se escreve em primeira pessoa...
ResponderExcluirTexto maravilhoso