Conrado Franconalli
Quando vi a luz do sol, rebentou
Quando o ar enche meus pulmões
Quando eu sinto meu corpo pesar
A cada ato de vida um novo rebento
Atormentando cada instante de mim.
Cada momento que seja único não passa
De um rebento do que já fui um dia
Rebenta minhas feridas se estou com raiva
Rebenta minha alma se estou com muita calma
Dilacera meus motivos, minha doce razão.
Não haver o que rebentar é loucura, sem açúcar
Sou fenda, sou fechadura, uma casca
Do mero exercício de rebentar.
Quando a chuva cai e o telhado não funciona
Quando a morte chega sem avisar para me visitar
Quando o carteiro passa sem me cumprimentar
Em cada página desse livro que eu mesma escrevi
Uma analfabeta de corpo e de alma
Uma burra, um jumento ou uma mulher desencantada
Há, quiçá eu dissesse tem, traços do rebento
Quando nasço, quando cresço ou desapareço
Rebenta-me a alma, que desce pelo ralo
Rebenta meu silêncio cada lágrima, cada som
Que nada traz e sempre soa.
Rebento, o que o justifica e o respalda?
Nada, acredito eu ouvir
Pois o buraco é mais embaixo e a explicação...
Meu pai, a explicação é mais em cima
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