DEMÊNCIA

Conto Original de: Anderson Rodrigues




“Lembro que enquanto escrevia esse conto, eu lia ‘Doutor Sono’ de Stephen King. Talvez tenha até algo que se assemelhe, talvez não. Mas lembro de que a questão de conter espectros, os poderes, me influenciou de alguma forma. Na verdade, King me influencia de todas as formas possíveis quando escrevo.
Essa história no fundo é sobre amor, posse, traição. Não de forma exata, mas em um contexto em que um tem influencia sobre o outro. Fala sobre medos, verdade, segredos. Não necessariamente assim, não necessariamente o que você entenderá.
Esse conto faz parte do livro “Quando a noite chama” que está no Kindle. Talvez eu poste os outros contos aqui. A princípio, a única coisa que permanece a mesma, em relação à certeza sobre os contos desse livro e em todo o resto, é a minha necessidade de escrever, e a minha preguiça de revisar. HA-HA.
Boa leitura.”














1

Era maio de 1958, Jefrey tinha seis anos, e para a idade que tinha era uma criança independente, e também solitária. As crianças tinham medo dele, não só as crianças, mas os pais delas, e esses faziam o medo persistir por contar histórias. Jefrey era sim um menino especial, sua mãe dizia que ele tinha dons, ele conversa com sua mãe, e ele falava para todos que poderiam dizer o que quisessem, pois sua mãe todos os dias a noite estava ao seu lado, colocando-o para dormir, fazendo-o ficar bem por conta dos vizinhos. Mas ao dizer essas coisas o medo tomava conta de todos.  A mãe de Jefrey já havia morrido há muito tempo, e não era só essa a parte estranha, ele sabia do que iria acontecer, ele sabia o próximo a morrer só de tocar-lhe, e nunca errou.

2

Jefrey brincava na rua, de frente para sua casa, era um bairro tranquilo, morava com sua avó, uma senhora mal encarada, daquelas que ao olhar você tem medo, era cega de um olho, lhe faltava alguns dentes e isso era evidente quando ela falava, a voz era medonha, e o cheiro que saia daquela boca quando falava, era mesmo uma bruxa.
Jefrey estava com um carrinho de plástico preso ao barbante, correndo quando chegaram Augusto e o pai bêbado dele. Augusto era daquele jeito por conta do pai sempre o encorajar a fazer essas coisas, os dois eram poças de banha, Augusto era coberto de espinhas e tinha um cabelo cor de ferrugem, uma cópia do pai.
- Ei, fedelho. Me dá esse carrinho! – Ordenou Augusto.
Jefrey continuou brincando, sem dar muito ouvidos, sua avó apareceu na varanda para chama-lo, mas viu a cena e ficou observando, sentou na cadeira de balanço e apenas olhava toda a situação.
- Eu falei com você, seu merdinha! – Agora Augusto gritava.
- Eu ouvi! – Disse uma voz doce.
Augusto tinha 15 anos, e aprontava apenas com os mais novos, até porque da sua idade ele não aguentaria muita coisa, usava como desculpa o pino de titânio que tinha no antebraço, dizia ter caído, mas todos do bairro sabiam que tinha sido seu pai o causador daquilo.
- Me dá agora! – Augusto foi para pegar o carrinho de Jefrey quando ele segurou o braço daquele gordo, e como tinha força. Para uma criança de 6 anos tinha bastante força.
- Me deixa em paz, Augusto. Não quero te machucar.
- Tudo bem. – Augusto deu um passo para trás, olhou para o pai e ele fez que sim. Augusto chutou o carrinho e o rosto de Jefrey.
Jefrey ficou tonto por um momento e ficou olhando para o pai de Augusto.
- Primeiro você, senhor! – Apontou a criança. – Jefrey fez parecer estar apertando e torcendo algo, e de repente o pai de Augusto começou a gemer, e caiu de joelho com a mão no peito.
- O que você está fazendo com meu pai, seu merdinha!
- Logo será você, seu gordo. Não quero que você fique sozinho nesse mundo.
Augusto ao olhar para o pai o viu no chão coberto por uma poça de sangue, nesse momento apareceram vizinhos olhando o que estava acontecendo. A avó de Jefrey já tinha entrado em casa, não queria ser dada como cúmplice por ter testemunhado tudo aquilo e não ter impedido.
Augusto iria começar a correr, mas Jefrey estranhamente estava em sua frente, tinha algo ou alguém atrás dele.
- Agora é sua vez, gordo!
Arthur fez a mesma coisa com Augusto o que fizera em seu pai, estourou seu coração. Alguns vizinhos horrorizados correram atrás dele para fazer algo, Jefrey ao cair em si, viu o que tinha acontecido, e não era ele. Começou a correr, e alguns atrás dele. Jefrey entrou uma mata, ficou na beira de um rio, ele ouvia os gritos e as pisadas das pessoas, xingavam ele, falavam que iriam mata-lo e pode ouvir até dizerem que matariam sua avó.
Quando ficou sem saída, entre o rio e a outra margem começou a chorar, não sabia nadar, ao olhar para a outra margem, viu um homem do outro lado, chamando-o, falando para ele atravessar, não ter medo que ele o ajudaria, tiraria ele das mãos de sua avó. Jefrey sabia quem era aquele homem, sua avó, era mãe dele, e ele tinha herdado o dom do marido, e Jefrey tinha herdado o dom do pai, Jefrey foi correndo, quando percebeu, estava na outra margem, atravessou o rio correndo, usando grande parte de seu poder.
- Olá, meu filho. Desculpa ter desaparecido. Mas não te abandonarei mais, sua avó que me impedia de chegar até você.
- Eu sei, ela é má.
- Não meu filho, é porque ela te ama, eu também te amo. Mas sabe como é, eu morri, e preciso de um corpo
- Então foi você quem matou aqueles dois?
- Sim, fui eu.
- Por quê?
- Porque eles  machucaram meu filho. Ninguém machuca meu filho.
- Mamãe? – o pai de Jefrey ao olhar estava sua ex-mulher, que ele havia matado para aumentar seu poder. Ela tinha vindo busca-lo.
- Sua avó está vindo te buscar, você só viu o que ele queria que você visse. Sua avó é uma senhora maravilhosa, cuide dela. Aprenda com ela.
Jefrey começou a ficar tonto, o nariz começou a sangrar, olhou para frente e viu um vulto indo em sua direção. Desmaiou.

3

Jefrey acordou no quarto da faculdade, com uma bela mulher nua em sua cama, estavam os dois nus, ao olhar as horas estava atrasado para a aula do senhor Mitchel, e se não tomasse cuidado não se formaria aquele semestre. Era um garoto dado como prodígio, entrou cedo na faculdade de medicina, queria ser psiquiatra, e entenderia um pouco mais daqueles que eram tidos como loucos.
Jefrey agora era um jovem estudante, viciado em álcool e sexo, e de vez em quando fumava uma erva da boa para relaxar. A jovem que estava em sua cama era a secretária do professor Mitchel, secretária e filha dele tentavam lembrar o que tinha rolado na noite anterior. Era hora de tocar na jovem para lembrar, embora seus poderes não estivessem tão fortes quanto antes, ele ainda conseguia algumas façanhas.
Ao tocá-la, viu como teria sido à noite, a encontrou em um pub irlandês tomando uma cerveja verde, ele iria tomar doses duples de um bom e velho scotch. Os dois começaram a conversa, ela dizia que o pai o admirava, e tinha certeza de que ele seria um ótimo médico. Ao fundo tocava na vitrola algo dos Beatles, ou Rolling Stones. Depois houve um apagão e levando-o direto para o quarto aonde fizeram sexo regada a bebida, maconha e cocaína, até porque a jovem Lourdes amava cheirar.
Era hora de correr e apresentar sua monografia ao senhor Mitchel, e quem sabe convidar Lourdes para sair, conversarem melhor, sem álcool ou drogas no meio deles.
Jefrey defendeu sua monografia, e se saiu bem como era de se esperar.
- Jefrey, só me faça um favor. – Disse o senhor Mitchel.
- Sim! – Jefrey parou na porta.
- Não destrua o coração dela. – Jefrey apenas balançou a cabeça e saiu da sala.
Ficou pensando como ele sabia, e ele sabia de tudo. Ao chegar no quarto, ela já havia ido embora, mas deixou um bilhete para ele, dizendo ter amado a noite passada, e que queria mais se fosse possível. Foi aí que começou o relacionamento dos dois.




4

Jefrey era agora um psiquiatra renomado, trabalhava no melhor e maior manicômio dos EUA, casou com Lourdes apenas seis meses depois de ter entrado para fazer residência aonde é seu atual trabalho, tiveram uma filha logo em seguida, Ashley era uma garota linda, tinha puxado o lado da beleza da mãe, já que Jefrey era magrelo e usava óculos fundo de garrafa.
Jefrey já beirava seus 40 anos, Ashley tinha quinze anos, uma adolescente na fase aonde tudo pode e ninguém seria louco em impedir. Jefrey trabalhava muito, não tinha muito tempo para a esposa ou para a filha.  Tinha um bom relacionamento com os pacientes, e a grande maioria falava para ele descobrir quem era o douto da mascara branca com um sorriso desenhado nela. Claro, ele não sabia o que estavam falando, e por conta de ter ficado muito tempo com o álcool em seu sangue, havia esquecido como usar seu dom, se é que um dia ainda iria recuperá-lo, nunca deixou de sonhar com o dia que viu seu pai e descobriu que ele era mal.
Alguns pacientes foram morrendo ao longo dos dias, ou então simplesmente desapareciam, aquilo foi fazendo Jefrey tomar o velho hábito de beber, o hospital psiquiátrico estava prestes a fechar as portas, e se fechasse, para a sua sorte é que tinha imóveis em seu nome, alugaria, venderia, faria seu patrimônio se manter e multiplicar.




5

Jefrey era agora um homem de sessenta e três anos, viúvo. Lourdes havia morrido por complicações do câncer de mama, sua relação com Ashley não era muito boa, até porque no dia da morte de sua esposa, Jefrey estava em algum maldito bar entornando todas, e no dia do enterro, estava em casa vomitando o banheiro todo.
Jefrey agora era avô, e a única coisa que Ashley não o privou de sua vida foi acompanhar o nascimento de sua neta. Ava era o nome dela, era uma garotinha linda, tinha olhos azuis escuros, da cor do céu noturno, e tinha uma mancha marrom dourada no seu olho esquerdo, ele dizia ser a visão do universo estampado no olhar de sua neta.
Ava tinha oito anos quando decidiram coloca-lo no asilo, ele estava só, bebia demais, e ele foi o primeiro a concordar com a decisão de sua filha. Pediu apenas que não o afastassem de Ava, mas isso seria impossível, Ava não iria conseguir ficar longe do vovô Jeff.
Escolheram o asilo em que ficaria, e ao chegar no local Jefrey lembrou de que aquele local era seu antigo lazer, seu trabalho. Lembrou que quando o hospital fechou, não conseguiu mais trabalhar e que motivou sua queda de volta ao álcool.
Conversaram com a diretora do asilo, e foi decidido que ele ficaria lá, Ava estava incomodada, e aquilo chamou a atenção de Jefrey.
- O que houve, Ava? – Perguntou Jefrey.
- Não quero que o senhor fique aqui.
- Por quê?
- Eles vão te pegar vovô.
- Quem, meu anjo? – Jefrey falava com um sorriso largo, mas começou a entender que Ava herdara o poder, e que Ava não estava bem com tudo aquilo.
- Ava, não se preocupe, o vovô vai ficar bem, eu sou forte! – Interrompeu Ashley.
Jefrey se perguntava se ela teria herdado o dom que era de sangue e sempre o ignorou, ou era como Lourdes.
- Vovô! – Ava fez um sinal para que se abaixasse. – Lembre que você também pode ver. – Sussurrou.
- Me lembrarei meu amor.
- Eu te amo, vovô.
- Eu te amo, meu anjo. Obrigado Ashley.
- Tudo bem, pai. Viremos te visitar quando der. – Ashley sabia que estava mentindo. Já havia dito para a diretora que não era para incomodá-la sobre o pai, era muito ocupada e ele era grandinho de mais para precisar dela.
Jefrey acompanhou a saída delas, e ficou com um sorriso e dando tchau para Ava, que insistia em olhar para trás enquanto era praticamente arrastada pela mãe.
Foi levado para o seu quarto, e ao entrar teve certeza de que tinha alguém sentado em uma cadeira que existia em seu quarto. O clima naquele quarto era pesado. Era hora de conhecer o asilo ‘Coração Vermelho’.  Andando pelos corredores, viu que tinha alguns velhos que realmente não poderiam estar ali, diferente dele, se queriam interna-lo, colocassem-no em um lugar para bêbados, e não para velhos que não saberiam mais nem seus nomes. O local era grande, e Jefrey parou no meio do caminho, viu uma mulher parada em sua frente, o corredor estava vazio, só estava ele e a mulher, ela o encarava. A mulher usava roupa de enfermeira, segurava uma seringa com uma enorme agulha, estava com o rosto tampado, de repente sangue começou a escorrer por suas pernas, ao olhar para seu rosto ela já estava sem os olhos, só haviam dois buracos, e no instante em que piscou ela estava em sua frente, com a seringa perto de seu olho, estava com a blusa aberta, com os seios de fora, ele queria correr, mas lhe faltava força para correr e gritar, ele queria gritar, e como queria, mas não estava encontrando sua voz. Ela pegou sua mão e colocou em seu seio, eram belos seios, ela usava uma máscara, parecia ter um belo rosto, e tinha seios firmes e lindos, com certeza queria transar com aquela mulher, poderia não ter olhos mas era muito linda. De repente veio um cheiro forte, ao olhar para a mulher, ela estava apodrecendo, ela tirou a mascara, estava sem a parte inferior da boca, não tinha um queixo aonde deveria ter. Quando foi tentar correr, escorregou e bateu com a cabeça.
Acordou um tempo depois em seu quarto, tinha um médico arrumando a maleta para ir embora e ao lado dele estava a diretora, eles conversavam, ele tentava entender o que ela dizia, talvez tenha dito algo sobre Ashley tê-lo abandonado lá.

6

Todas as noites na hora de dormir, as portas eram trancadas, e assim começava o tormento, os gritos, os sons de pessoas correndo pelo corredor, o desespero nos pedidos de socorro, e a sombra de alguém em pé no canto da parede de olho nele, e a cada dia parecia estar mais perto, se aproximava pela escuridão.
Certa vez acordou na madrugada e a porta de seu quarto estava aberta, e a luz do corredor estava acesa, e decidiu sair para ver o que havia acontecido. Saiu do quarto e se afastou da porta, ela de repente fechou com força e ouviu passos vindo em sua direção, olhou para a esquerda e viu alguém parado no final do corredor, as luzes aonde aquela pessoa estava oscilavam, e a medida em que aproximava, as luzes acima piscavam, e a cada passo que ele dava, ficava o escuro atrás, o cheiro de mofo e coisa velha vindo junto, quando ficou poucos metros de Jefrey, ele conseguiu ver, e lembrou das conversas que tinha com seus pacientes, era o médico da máscara branca com um sorriso. Mas as roupas e as máscaras estavam velhas, o médico estava velho.
- Agora é sua vez, Jefrey. De todos que trabalhou aqui, faltou acabar com você! – Gritou aquela coisa.
Jefrey começou a tentar abrir a porta, batia nela com o ombro, e o sorriso daquele fantasma vindo em sua direção fazia sua espinha congelar, suas pernas estavam começando a ficarem bambas, sentia que iria desmaiar.
- Venha comigo, meu amigo. – Jefrey desmaiou.
Ao acordar estava em uma sala, deitado em uma maca de ferro amarrado, o medico estava de costas para ele, e ao virar veio com uma enorme seringa de ferro, e uma agulha de dar medo até para os que juram não ter medo, e não era apenas o tamanho, mas era grossa demais.
Ele chegou em Jefrey e enfiou a agulha em seu olho, a enfiou toda, Jefrey podia sentir o sangue escorrer pelo seu olho e um liquido estranho entrar.
- Hora de chegar no seu cérebro.
Jefrey pôde sentir seu cérebro ser cutucado, ao tirar a agulha de seu olho ele ouviu a voz de um mulher, ao olhar fixamente para a direção em que vinha a voz feminina, era a enfermeira gostosa que conversava com o médico.
- Vamos ver se você é louco, pequeno Jefrey ou se você é absolutamente normal.
Jefrey começou a ser torturado, sofria choques, injeções que atravessavam o olho até o cérebro. Até que não aguentou e desmaiou.

7

Ava acordou gritando, tinha sonhado com o avô, queria vê-lo, mas a mãe sempre a acalmava dizendo que iriam logo, mas nunca foram. Dois anos havia se passado e Ava não tinha ido visitar o avô, todos os dias eram sonhos diferentes, mas no final o avô sempre estava sendo torturado pelo médico mal com uma máscara branca aonde tinha um desenho de sorriso.
Ava já pensou inúmeras vezes de ir visitar o avô, mas ela não lembrava o endereço, e também não queria que a mãe odiasse ainda mais o avô. Ela sentia que o avô não aguentaria muito tempo, ele provavelmente estaria louco, estaria aguentando tudo aquilo há dois anos, e a família não o visitava.
Ava passava a semana na casa da mãe e o final de semana com o pai, o pai dizia que Ashley era louca, ele concordava que o pai errou muito, mas só ele sabia o quanto estava sofrendo em não poder fazer nada para ajudar a esposa. Foi na época da morte de Lourdes que Ashley se separou de Billy, alegava que ele estava ao lado de Jeff, e não ao lado dela, e não queria outro inimigo em casa. Ava dizia ao pai que queria ver o avô mas não sabia aonde ficava o lugar. Muito menos Bill.

8

Jefrey sempre que acordava da noite de terror estava em sua cama, sem marcas, sem dores, e o asilo estava completamente cheio. As família visitavam seus parentes que estavam naquele lugar, mas a sua não, sentia saudade de Ava, e queria vê-la, Deus sabia o quanto queria, mas sabia que Ash nunca deixaria isso acontecer.
- Jefrey, visita para você. – Jefrey não acreditou naquelas palavras, mas uma ponta de esperança invadiu seu coração.



9

- Vovô. – Veio em sua direção uma menina um pouco grande, linda. Viu também Bill vindo em sua direção, mas andava com mais calma.
- Ava? É você mesmo, meu anjo?
- Sim, vovô, sou eu.
- Como vocês chegaram aqui? – Olhava para Bill
- O papai sabia, depois que eu disse que era no seu antigo local de trabalho, ele lembrou o caminho, você já tinha trago ele aqui uma vez. – Interrompeu uma menina eufórica por estar vendo o avô dois anos depois de tê-lo deixado naquele lugar.
- Entendi. Ava, eu não acho que seja bom você estar aqui.
- Vovô, eu sei o que está acontecendo, eu vejo. Mas eu estou te protegendo, temos que descobrir como parar com tudo.
- Eu concordo meu amor, mas eu não tenho mais aquilo que você tem.
- Vô, você tem. Só basta procurar.
- Você tem razão.
Em seguida veio a enfermeira informar que o horário tinha acabado. Ava foi embora, parecia estar feliz, e aquela visita fez bem ao velho Jeff, mas teria um limite, pois a noite dolorosa se aproximava.
Jefrey passou a receber cartas de Ava, Ashley havia descoberto que Ava foi visita-lo, o que ocasionou uma briga entre Bill e Ash, e para o bem das partes, Ava concluiu que era melhor afastar um pouco, mas que manteria contato com o avô por cartas.




10

Jefrey havia acordado na madrugada, teve um pesadelo com Lourdes, a culpa estava lá. Ele se sentia culpado pela morte da esposa, embora câncer não era culpa de ninguém; mas ele achava que poderia ter feito mais, quem sabe até ter curado a esposa se não fosse um bêbado e tivesse perdido seu principal poder que era o de curar enfermos.
Jeff estava sentado na cama aos prantos, gritava o nome de Lourdes, juras de amor; a porta do quarto abriu. Jefrey apenas observou a porta sendo aberta, e ouviu passos de longe. Poderia tentar mais uma vez correr, tentar se esconder, mas aquela noite nenhuma dor seria maior que a saudade de sua esposa morta.
Uma pessoa entrou em seu quarto, não parecia o médico louco de sempre, nem a enfermeira do rosto deformado do corpo perfeito, mas alguém menor.
Quando deu por si estava deitado, mas a sala estava escura, apenas ouvia vozes ao longe, já que ele ainda pensava na esposa. Teve o grito, a dor, o sangue; quando conseguiu firmar as vistas na pessoa, viu a sua esposa, ela que estava torturando-o daquela vez. Ele tinha certeza disso, era Lourdes sim.
- Vim te dar meu perdão, seu bêbado. – A aparência de Lourdes era grotesca, os dentes podres, o cheiro podre que vina dela, a voz também não era a de Lourdes.
- O que é você? Quem é você? – Gritava Jefrey
- Eu sou o que você quiser que eu seja, meu filho! – Tudo escureceu.

11

Ava acordou aos prantos, algo estava acontecendo ao avô, sabia disso e poderia sentir. Ashley entrou no quarto correndo, o cheiro de alcool e cigarros eram fortes, mas mamãe a abraçou forte, lhe acalmando, e apesar de tudo, era bom sentir aquilo.
- Mamãe, o vovô precisa da gente!
- Filha, o vovô está bem. – A irritação na voz de Ash veio forte, fazendo a cabeça de Ava doer.
- Mamãe, é por isso que você bebe?
- Como assim? – O rosto de Ash mudou completamente.
- Eu senti agora. Você é como o vovô e eu. Você bebe pelo mesmo motivo que ele, você quer esconder e esquecer seu poder. – Ava chorava.
- Não sei o que você está falando, Ava.
- Eu senti, você atingiu minha cabeça. Seus pensamentos, e eu vi que você também sentiu que algo aconteceu com o vovô. – Ash bateu no rosto de Ava.
- Me desculpa! – Ashley começou a chorar.
- Mamãe, vamos salvar o vovô.
Ash saiu do quarto antes mesmo de Ava terminar a frase, mas pode ouvir o que a filha dissera.


12

Billy estava transando com a vizinha do apartamento 610; uma loura linda, seios pequenos, mas o resto valia a pena, como dissera o porteiro. O telefone tocou, e ele deixou cair na secretaria.
- Billy, é a Ash. Ava acordou assustada, precisamos de você. Então, nos retorne o quanto antes.
Billy ao ouvir a voz de Ashley pulou de cima de Scarlet, e atendeu o telefone antes de  Ash desligar o telefone. Conversaram, ela lhe explicou que Ava achava que algo de ruim estava acontecendo ao avô, e que queria ir até lá, mas inclrivelmente, ela também queria ir.
Em poucos minutos, Billy estava na frente da casa de Ashley, dissera para a vizinha que acontecera algo com sua filha e que precisava ir. Ava passou por ele sem dizer uma palavra, estava pálida e abraçada ao urso que há tempos estava esquecido no guarda roupa. Billy olhou para Ash, ela apenas sorriu, mas parou em seguida com uma forte dor de cabeça.
- Billy, entre no carro e esqueça toda aquela baboseira de seguir as leis de trânsito, acelera, esquece tudo o que eu sempre falei. – Ash disse já praticamente dentro do carro.
- Você bebeu de novo?
- Isso não é da sua conta, cara. Só faz o que te pedi.
- Continua com mal humor de sempre, senhora. Ava, está tudo bem querida?
- Papai, apenas dirija, por favor. Mas dirija rápido. – Por um instante, Billy viu o rosto de Jeff e Ash no lugar do de sua filha, pensou se ela seria mais uma alcoolotra.
Billy dirigiu em direção ao Asilo em que Jeff estava, e dirigia o mais rápido possível.

13

Jeff acordou e estava agora sentado. A última coisa que lembrava era o rosto estranho de sua esposa, e ela disse algo que ele não conseguia lembrar, e parecia ser algo que ele queria completamente esquecer.
Conseguiu ouvir alguém se aproximando, passos altos e fortes, a pessoa queria chamar a atenção dele para as pisadas.
- Você? – Disse Jeff completamente surpreso.
- Olá, Jefrey. – A pessoa parada à frente de Jeff estava com um sorriso nos lábios. – Seja bem-vindo a minha casa.
- Sua casa? Como assim esse asilo é sua casa?
- Asilo? Tem certeza que isso aqui é um asilo? – De repente o lugar em que ele estava começou a mudar, as paredes estavam revestidas com azulejos brancos, a luz que oscilava era forte.
- Que lugar é esse? – Perguntou Jeff com os olhos fechados.
- Não lembra? Vamos ver se você lembra desse aqui.
O lugar mudou de novo, ele conseguiu ver o lago, conseguiu ver as pessoas correndo atrás dele, e de repente mudou de novo, e viu um homem com roupa branca e uma máscara com um sorriso desenhado. O homem tinha um olhar demoníaco, era a única coisa que dava para ver e saber que aquele homem que estava torturando a enfermeira era ele. Soube antes mesmo de ver a máscara ser retirada. A enfermeira chorando, olhou em sua direção com a boca cortada, estava com os seios para fora da blusa, a calcinha estava no chão. Ele havia estuprado a moça.
- Para com isso, me tira daqui! – Abaixado, gritou com toda sua força, e os olhos fechados com mais força ainda.
Ao abrir os olhos estava de novo no lugar em que estava ao acordar, a sala ainda escura, sendo iluminada apenas pela luz do luar.
- Por que você está nesse asilo? – Perguntou Jeff chorando.
- Mais uma vez te pergunto, que asilo, criança?
Ao abrir os olhos viu que agora estava em um prédio abandonado, velho. O cheiro de mofo, o chão molhado. Sentiu o próprio cheiro de suor que saia dele.
- Aonde você me trouxe agora? – Falou baixo dessa vez, já não tinha mais força para gritar.
- Estamos no lugar que você sempre esteve, aonde sua filha te deixou. Na minha opinião, acho que apenas sua neta conseguir ver um pouco do real lugar em que você está. Sua filha é uma bêbada igual a você, então creio que já não seja tão forte quanto fora um dia. Mas sua neta não falou nada por achar que estava vendo demais.
- Por que está fazendo isso comigo?
- Você me ajudou a me recuperar, e ter mais força para voltar ao mundo dos vivos, carinha. E você, eu quero morto, máscara feliz!
- Do que me chamou?
- Era assim que você era chamado pelos malucos desse lugar que você orquestrava o horror.
O barulho de carro parando no portão pelo lado de fora chamou a atenção de ambos.
- Acho que sua família veio em hora errada. – Disse o homem olhando pela janela.
- Deixeo-s em paz. Por favor, pai!
- Que graça, não? Implorando pela vida da filha e da neta. – Dissera abaixado, sussurando no ouvido de Jeff. – Mas não! – Agora a voz era má, fez Jeff ter medo, imaginar de onde viria aquela voz. – Com licença, agora tenho o que fazer. – Disse mudando de aparência, era agora a enfermeira que cuidava do lugar na parte da noite.

14

Estavam parando em frente o portão do asilo, estava tudo normal aparentemente. Ava estava dormindo no banco de trás dissera Billy para Ash, mas Ava já tinha avisado a mãe que iria dar uma volta atrás do avô. Aos olhos de Billy, realmente não tinha com o que se preocupar, mas Ava e Ash conseguiram ver por pouco tempo que não existia nenhum asilo naquele lugar, era um prédio abandonado, era o sanatório que Jefrey havia trabalhado, apenas isso.
Billy saiu do carro, pois estava vindo uma enfermeira na direção do carro.
- Olá, visitar o senhor…
- O meu pai, quero vê-lo. – Interrompeu Ashley, fazendo-o ficar envergonhado, e isso era uma das coisas que ele mais odiava nela.
- Olha, senhorita, não sei quem é você, mas obviamente não estamos mais em horário de visitas.
- Olha aqui, vovô, deixe eu tirar meu pai daqui, ou te mando para o inferno!
- Vovô? Espera aí, você está bem Ashley? – Dissera Billy, pronto para puxar Ashley para o carro.
- Muito bem, Ashley. Venha buscar o seu pai. – As fases que a voz foi tendo até chegar naquela voz assustadora, fazendo Billy ficar paralisado, tentando entender aquela voz. O portao foi aberto com força, Billy achava que iria desmaiar.

15

Ava estava andando pelos corredores do prédio, conseguia finalmente ver que não tinham colocado o avô em um lugar seguro, passava pelas portas abertas dos corredores e via pessoas mortas, doentes, enfermeiras transando com os pacientes, ou com médicos; Ava já estava grande o bastante para saber o que eram as cenas, já viu no histórico do computador da mãe sites pornográficos, e isso fez ela sorrir em meio aquele horror.
Ava estava andando quando viu um médico correndo atrás de um paciente e usando as mãos para fazê-lo cair, Ava tentou ajudá-lo, mas ao olhar para trás o homem já estava levantando o paciente pelo cabelo e batendo sua cabeça na parede. Seguiu o homem e o viu fazendo coisas horriveis com o paciente e por fim, matando-o, quando o homem tirou a máscara, ela viu o rosto de seu avô, fazendo com que ela caísse no chão, queria ter corrido, mas lhe faltou equilíbrio. Mas em seguida viu linhas no avô, linhas azuis, ele estava sendo controlado, o avô estava sendo algo como uma marionete. Ela já teria visto as mesmas linhas na mãe. Quem quer que fosse, estava controlando suas vidas.
Ava continuou andando pelo corredor, e viu o avô sentada aos prantos na cadeira, ela lhe tocou o rosto e ele levantou, vendo apenas o vulto do rosto de sua neta.
- Ava, meu amor. É você mesmo?
Ava dissera que sim, mas o avô não escutou, então ela fez que sim com a cabeça e ele entendeu o recado.
- Saia daqui e leve sua mãe embora, ele está aqui.
Ava não entendi o que o avô estava querendo falar, quem sera esse homem que o avô estava dizendo. Ava conseguiu sentir que ele estava bêbado, talvez era isso que quem quer que fosse estava fazendo com ele, ele achava estar sendo medicado, mas estava mesmo era bebendo, por isso não conseguia ver aonde realmente estava. Mesmo motivo de sua mãe.
Ava sabia que a pessoa que estava lá não tinha força contra ela e a mãe juntas.
- Ava, tente me tirar daqui e volte para o lado de sua mãe. Eu sei o que devo fazer.
Ava rapidamente conseguiu tirar o avô da cadeira e foi o acompanhando até o local aonde estava mãe, quando ela viu alguém perto de seus pais.
- Muito bem, Ashley. Venha buscar o seu pai. – Ela ouviu aquele homem gritando aquilo antes de voltar para o seu corpo.

16

Ava acordou tonta, por um instante havia esquecido aonde estava, talvez até quem seria ela, mas ao olhar para fora do carro viu a mãe, o pai e o avô e um estranho homem entre eles. O pai estava escondido atrás de uma pedra olhando para dentro do carro, a mãe estava de pé, o avô por trás do homem.
- Vovô, não era você quem matava aquelas pessoas, era ele. Eu vi tudo, ele te controlava assim como controlou a mamãe. – Disse Ava saltando do carro.
O homem olhou para Ava e sorriu, sem movimentos, mas que de alguma forma derrubou a garota.
- Ava! – Gritou Ashley.
Jefrey ficou de joelhos, sentindo fortes dores no peito, quando Ash olhou para o pai, viu o que seria o avô olhando para ele e fazendo um gesto como se estivesse apertando algo em Jefrey. Ela por algum tempo não conseguiu falar algo para o pai, nem mesmo chamar Billy. Billy correu na direção dela e pegou Ava no colo e colocou dentro do carro.
- Ash, eu cuido dela, vai salvar seu pai. Anda! – Ashley achava que aquela era a primeira vez em que via Billy sério e nervoso.
Quando Ashley tomou a iniciativa de ir, Ava já estava ao lado do avô, olhando para aquele espirito que estava causando toda aquela desgraça na família. Ashley e Billy se olharam, e mesmo sem dizer uma palavra entenderam o que cada um se perguntava – Como ele foi parar ali?”
O espirito do bisavô também ficou confuso, Ava sabia disso.
- Para o seu bem, pare de machucar o vovô, e vai embora! – Gritava, Ava.
- Acha mesmo garota que vou deixar seu avô se safar mais uma vez?
- Ava! – Falou seu avô na mente dela, fazendo sua cabeça doer e por um instante fazendo parecer que ela fosse desmaiar. – Preciso que faça uma coisa!
Ava já havia entendido o que deveria ser, e começou a chorar, olhou o avô por cima do ombro, o avô também chorava, mas não olhava para ela, olhava para Ashley e Ava sentiu a dor que Jefrey mantinha dentro de si.
- Garotinha, deixe eu resolver meus assuntos com o seu avô, e depois resolvo com você e sua mãe!
- Vovô, acho que tem outro jeito! – Disse Ava com cautela, para não causar dor no avô, e parecia ter funcionado.
- Não, Ava. Sinto também que já é hora.
Ava esticou os braços na direção do fantasma, e usou quase por completo seu poder, seu nariz sangrou com aquilo. O fantasma riu da tentativa da garota em bloqueá-lo, ao tentar passar, ele foi jogado para longe, quase perto demais de Ashley. Ashley se aproximou e entrou na mente do fantasma, e o que era incrível, um fantasma ter mente, e descobriu todo o mal que ele teria feito na busca pelo poder, a dor que ele causou no pai.
- Você que matou minha mãe! – Gritou Ashley usando sua raiva no poder que estava usando. Ele gritava.
Ava levantou o avô e foram caminhando juntos até aonde Ashley estava segurando o avô com seu poder, o homem gritava, eram gritos assustadores, de sofrimento e angústia. Ele parou de gritar, vieram os risos, daqueles altos e exageradamente escandalosos.
- Eu sou poderoso, criança. Acha mesmo que você pode fazer algo?
Ashley se afastou, estava com medo, tudo escureceu.
Ashley estava atacando Jefrey, e Ava sabia o por quê. Ela via os dedos do fantasma de seu bisavô mexendo, ele ainda tinha poder sobre a mãe e sobre o avô.
- Ava, é agora. – Disse o avô parado ao seu lado.
Ava foi na direção do fantasma deixando o avô e a mãe de lado, ela começou a correr e a gritar, o fantasma viu ela se aproximado e fez uma barreira, mas não deu muito certo, ao contrário do que ele pensava, Ava era poderosa, ela conseguia esconder todo aquele poder, Ava pulou contra ele fazendo com que ele caísse, segurou o rosto dele e aproximou o seu rosto do dele, abriu a boca, e começou a sugar todo aquele poder que existia dentro dele. Ele gritava, dessa vez sentiram, incluindo Bill que não tinha nenhum dom especial, que a dor era de verdade. A eneregia que passava dele para Ava era visível, ela começou a gritar, pois a energia começou a entrar em colapso com ela, os olhos começaram a brilhar, o corpo dela estava brilhando, Ava ficou em pé e em seguida caiu de joelho gritando em agonia, estava sentindo o sofrimento de todos aqueles que foram mortos por ele, Ava chorava e socava o chão, eram muitos, era muita dor. Jefrey abaixou ao lado dela, virou seu rosto para ele, e Ava jogou tudo aquilo para o avô, ele desmaiou em menos de dez segundos quando teve contato com aquilo, mas continuou recebendo.
- Não, meu poder, meu eterno poder! – Gritava o agora enfraquecido fantasma.
Ashley enfim conseguiu segurá-lo enquanto ele estava jogado ao chão. Ash começou a torturá-lo enquanto ele estava ali gritando querendo todo o seu poder roubado.
Ava havia terminado de passar toda a energia para o Avô, e acabou desmaiando, o avô conseguiu se colocar de pé e foi na direção de Ashley e de seu pai, ele abraçou a filha e pediu perdão por tudo o que fez, Ashley apenas chorava, e não foi preciso dizer para o pai que ela o perdoava, ela entendia que aquilo tudo era culpa do avô, e retribuiu depois de muito tempo o abraço do pai.
Jefey fez com que o agora sólido e envelhecido corpo de seu pai ficasse de pé, Ava ainda estava desacordada.


17

- Olá, minha netinha!  - Jefrey estava dentro do sonho de Ava.
- Vovô? É você mesmo?
- Sim, que lugar bonito esse em que estamos, não? – Eles estavam na praia, com o sol se ponde e a lua nascendo do outro lado, o mar estava alaranjado, a brisa suave no rosto de Jefrey o fez chorar mais uma vez. – Sabia que foi em um lugar assim, que sua avô me disse que estava grávida de sua mãe?
- Não! – Disse Ava tentando segurar o choro e consequentemente tentando desfarçar esse esforço.
- Pois é. Esse foi o dia em que me senti o homem mais feliz da minha vida, fora o dia em que te peguei no colo pela primeira vez. Não lembro muito bem como aconteceu, e aonde foi, pois eu estava bêbado como sempre. Lembro vagamente que quase a deixei cair e fazendo todos, inclusive sua avó gritar comigo. Tive medo de machucar minha netinha, acho que foi aí que Ashley começou a me odiar. – Ava prestava atenção em cada palavra, chorava em silêncio, estava em sintonia com o avô que também chorava, mas sua fala não deixava isso perceptivel.
- No dia da morte de sua avô, eu já sabia que ela morreria, mas não tive coragem para estar ao lado de minha parceira de longas datas. Fui beber, precisava encher a cara, assim fiz no enterro, e assim continuei fazendo. Sua mãe começou a me odiar muito antes de você nascer. Foi em um dia em que infelizmente por conta da bebida agredi sua avô, e ela viu tudo. Achava que sua avô estava me traindo porque eu a traí, e por ter isso na cabeça, ela também estava me traindo. Ela sabia que eu a tinha traido e mesmo assim me quis, me perdoou. Mas na primeira oportunidade de dizer que ela estava me traindo, agredi àquela que sempre me apoiou. Nem isso a fez perder o amor por mim. Eu a traia desde a faculdade, no dia em que a pedi em namoro eu a traí, no dia em que ficamos noivos a traí, no dia de nosso casamento a traí. Ela sabia de tudo isso, todos sabiam, mas mesmo assim ela se manteve lá, ao meu lado, firme e forte, me amando, me protegendo, e ignorando o que os outros falavam. Eu retribuí tudo isso das piores formas possíveis: a agressão e o abandono! – Ele fez uma longa pausa, dessa vez nã conseguia disfarçar que estava chorando, Ava apenas lhe tocou as mãos e olhou para ele com os olhos mergulhados em lágrima.
Estavam os dois sentados na areia, estavam em silêncio, Jefrey soluçava por conta do choro, Ava apenas ouvia o choro, não sabia o que falar, e não queria falar, apenas escutava, nada além disso.
- Ava, eu preciso te pedir perdão também. – Ela olhou para ele confusa, foi tentar dizer algo mas Jeff a impediu de prosseguir. – Seus pais hoje em dia não estão juntos por minha culpa, eu colocava seu pai contra sua mãe, por um tempo eu odiava seu pai pelo simples motivo dele ter o amor de Ash, e eu não.
- Vovô, não precisa se desculpar comigo. Eu te perdoo no que quiser que eu te perdoe!
- Você será uma bela mulher! – Disse Jefrey olhando nos olhos dela.
Ele levantou e pediu um abraço para a neta. Eles se abraçaram e ficaram por muito tempo daquele jeito, abraçados, um transmitindo pensamento para o outro. Ava acordou!

18

Ao acordar, Ava viu o avô segurando o fantasma, ele apenas olhou para ela com um sorriso em seu rosto, e apenas transmitiu uma última palavra para ela, Ava colocou o rosto contra a terra e chorava, Ashley se afastou. Billy olhava tudo de dentro do carro, tremia, o carro estava ligado, não estava entendendo nada do que acontecia, e não entendia o por quê de não ter ido embora. Billy caiu no sono graças a Jeff e disse para Ash e Ava que quando ele acordasse longe dali, não lembraria de terem ido até lá e para ele Jeff já teria morrido, e que ele e Ashley estariam tentando uma volta, pois ele sabia que era o que eles dois mais queriam, e Ava principalmente.


19

- Agora é a gente, papai. – Disse Jefrey tentanto parecer louco, mas ele achava que não estava fingindo, pelo motivo de estar com todo aquele sofrimento que carregava dentro de si.

O chão começou a tremer, e abriu uma fenda aonde podia ouvir gritos, pedidos de socorro, choros.
- Te levar para onde nunca deveria ter saído, e vamos juntos, para assegurar que nunca mais saia.
Jefrey fundiu o corpo com o do pai e se atirou dentro daquele abismo e que Ashley sabia bem o que era e rezava para que a filha não soubesse para onde o avô foi, embora Ava já sabia desde o inicio como deveria ser.

20

A paz entre Billy, Ashley e Ava havia retornado, todos eram uma família de novo, Ashley todos os dias rezava para a paz da alma do pai, e ela tinha certeza que nessas rezas, sentia a presença do pai, Ava continuava sonhando com o avô, era a única forma de encontrá-lo e conversarem, embora ela soubesse que essa parte realmente era sonho, pois onde o avô estava não tinha como ele sair para passear e voltar a hora que quisesse, e a presença que a mãe sentia era apenas a vontade de que o pai estivesse bem e feliz aonde estava.
Ava sonhava com o avô e viu seu bisavô saindo por alguma fenda ainda mais forte e pronto para ir atrás dela e de sua mãe, e o avô estava preso no inferno. Ava acordou e na porta estava seu pai observando-a dormir com uma arma .12 nas mãos.




21

“Homem mata esposa e filha com tiros de espingarda e comete suícidio logo em seguida. Identidades foram preservadas a pedido da família para não atrapalhar as investigações.” Mais informações na página 15.







Sobre FIXAÇÃO LITERÁRIA

FIXAÇÃO LITERÁRIASomos jovens escritores que almejam um lugar nesse vasto campo que é o universo literário e termos a chance de acrescentar na amargura do mundo uma gota de criatividade, duas colheres de elegância e uma pitada de imaginação. Créditos imagem - Mell Galli
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